A grande vantagem que as franquias oferecem ao empreendedor é a oportunidade de escolher um negócio com marca estabelecida e know-how de operação, o que pode diminuir o risco do investimento. No entanto, como escolher a melhor opção entre tantas marcas, setores e modelos de negócio?
O primeiro passo é descobrir qual é o seu perfil e a sua necessidade. "Normalmente, há dois perfis de pessoas que buscam uma franquia", explica Thiago Almeida, professor de Empreendedorismo do Ibmec-RJ. "O primeiro é o investidor que tem recursos investidos, ou um imóvel que pode vender, e decide abrir uma franquia para conseguir melhor retorno para seu capital."
Geralmente, o investidor do primeiro perfil tem mais recursos e pode investir em uma franquia mais cara ou sofisticada. "Uma franquia mais cara normalmente pertence a uma marca de sucesso, mais conhecida no mercado e, portanto, com menos risco", diz Almeida. No entanto, é o segundo perfil que busca mais segurança ao apostar na franquia. "São pessoas com menos recurso para investir e que apostam nessa opção por empreendedorismo", continua Almeida. "Trata-se de um tipo muito mais comum no mercado brasileiro de franquias hoje."
O futuro franqueado necessita, então, achar o ponto de equilíbrio adequado ao seu perfil. Uma franquia recente, em processo de expansão, pode ser mais arriscada, porém apresenta mais potencial de crescimento. "É uma avaliação delicada do seu capital disponível, do risco que está disposto a correr e do retorno esperado. As marcas mais bem estabelecidas têm menor risco, com retorno menor e custo mais alto", diz Almeida.
Na prática, o risco do negócio é maior, mas o menor valor do investimento dilui o risco financeiro. "Se a franquia dá certo, você sai na frente e ocupa espaço no mercado", diz Almeida.
Eventualmente, o processo de crescimento chega ao ponto de saturação para algumas marcas de franquia. "A demanda de potenciais franqueados é muito maior do que a possibilidade de expansão de algumas marcas, especialmente nos grandes centros", lembra Luís Fernando Klava, diretor da consultoria de comunicação Economídia, especializada no mercado de franchising. "Por isso algumas empresas como Boticário e Giraffas estão criando novas bandeiras para continuar crescendo no segmento de franquias".
Outro passo importante para uma boa escolha é avaliar a afinidade com o negócio ou setor proposto na franquia. Essa identificação do novo empresário pode ser um critério de corte do franqueador na hora de selecionar seus novos franqueados. Muitas empresas exigem que o franqueado esteja na linha de frente do negócio, e não como simples investidor de uma operação terceirizada.
"No setor de serviços, é imprescindível gostar do contato com pessoas", diz David Pinto, presidente do grupo Resolve Franchising, dono das marcas Doutor Resolve, Dona Resolve e Instituto da Construção. "Recebemos uma proposta de um candidato que disse que preferia tocar bois no pasto a ter contato direto com o público".
David defende a participação direta do franqueado na linha de frente do negócio. "Embora a franquia seja a repetição de experiências bem-sucedidas, ela não é uma garantia absoluta de sucesso, nem pode ser tocada no piloto automático", recomenda.
Se o candidato a franqueado já sabe o que quer, é hora de começar a analisar as propostas disponíveis dentro de seu alcance financeiro. "É importante levar em conta o valor do investimento para sustentar o negócio até atingir o ponto de equilíbrio", diz Cláudia Bittencourt, diretora-geral do Grupo Bittencourt, consultoria especializada em franchising. Além disso, é preciso ter uma expectativa correta do retorno projetado. Esse erro acontece porque muitos franqueadores não abrem suas planilhas mensais aos candidatos, e mostram apenas seus números anuais. "Isso pode levar o novo franqueado a subestimar a necessidade de fluxo de caixa até o ponto de equilíbrio", diz Cláudia.
A análise do mercado a ser explorado também faz parte do processo de decisão. Algumas perguntas são imprescindíveis para uma escolha consciente. Qual o crescimento desse mercado? O setor está demitindo ou contratando? Qual o crescimento da região que será explorada? Qual a faixa etária dos consumidores? A população da região cresce ou diminui? A localização geográfica é determinante para o sucesso do negócio ou não? Há algum risco regulatório ou legislativo? Pressões sindicais ou trabalhistas?
Outra questão fundamental é se as barreiras de entrada ao mercado são baixas. "Se o modelo de negócio pode ser replicado facilmente pela concorrência, isso é um fator negativo", diz Almeida. "Vide o que aconteceu com as franquias de sorvete de iogurte". Ele "Quando falamos de um novo negócio ou produto, temos de avaliar bem se é algo sustentável no longo prazo ou apenas uma moda passageira".
Também é bom entrar em contato com outros franqueados. "Isso ajuda a entender o negócio, saber mais como é que a operação funciona na prática", afirma Leiza Oliveira, fundadora da rede de escolas Minds Idiomas. Quanto às taxas cobradas pelo franqueador, alguns franqueadores cobram taxas fixas mensais do franqueado, enquanto outros cobram porcentagens sobre o faturamento.
Superadas todas as etapas, é hora de avaliar a documentação jurídica. O conselho de um advogado é indispensável. Cláudia ressalta, no entanto, que o mercado evoluiu muito nos últimos anos, desde a aprovação da lei 8.955/94, que regulamentou a atividade de franchising no país. "Antes disso, não havia regras claras", diz. "Hoje, já existe jurisprudência sobre conflitos no setor, que ajudam a desenhar cláusulas que protejam as duas partes".
Fonte: Valor Econômico
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